7.11.11

Alexandre Orion e a METABIÓTICA




METABIÓTICA – Alexandre Orion Editora: 80 páginas, cor – formato 30 x 30 cm. Capa flexível com caixa especial edição português/inglês/espanhol/francês. Textos de Boris Kossoy, Walter Firmo, Diógenes Moura e Tristan Manco ilustrados com imagens das intervenções urbanas de Alexandre Orion (fotografias das obras do projeto Metabiótica) Valor de venda: R$ 70,00 (setenta reais)



Em 2006, procurando temas para colaboração na revista STREET (veja no rodapé) "topei" com o trabalho de Orion que achei muito bacana. Depois de uma correspondência Rio-São Paulo para apurar detalhes com ele, escrevi esta resenha que resolvi publicar aqui com o acréscimo de vídeos. Porque vale a pena.

Alexandre Orion é um artista de São Paulo que já foi tatuador e que vem criando interferências com sua arte pelas ruas da cidade já há algum tempo, desde 1995. Designer, artista plástico e fotógrafo, trabalha a estética street em espaços "oficiais" quando expõe em galerias, tendo obras adquiridas pelo acervo da Pinacoteca de São Paulo, onde lançou dia 9 de dezembro seu primeiro livro METABIÓTICA (Editora Via das Artes/apoio EGM Gráfica), ou mesmo recebendo prêmios – mas também paralelamente num grafite inusitado pelas ruas, sem preocupação com a fronteira do ser-ou-não-ser maldito.


A despeito de ter um site próprio, onde divulga seu trabalho, e até já ter dado entrevista para a MTV (inversamente ao estilo low profile de um Banksy, cultuado por tantos grafiteiros que adotam o anonimato), a qualidade de seu trabalho e a coerência de seu discurso merecem atenção.



Um exemplo de sua intervenção nas ruas foi o trabalho "Ossário"(veja o vídeo mais abaixo) produzido sobre cerca de 200 m de paredes internas do túnel Max Feffer, na capital paulista, entre as avenidas Europa e Cidade Jardim, noites adentro, a partir de julho de 2006. Ao invés do spray, a técnica usada foi a raspagem de camadas de fuligem, retirando pacientemente tudo o que "não" era o desenho e fazendo surgir, do contraste das áreas limpas e sujas, grandes caveiras contemplando os vivos.



Já que limpeza não é crime, a polícia não pôde impedir o trabalho, mas interferiu dezenas de vezes, num jogo de gato-e-rato com Orion, que chegou a recomeçar o trabalho em outros túneis, depois que uma equipe da Prefeitura, acompanhada da CET e da Polícia Militar providenciou a limpeza das paredes - contraditoriamente, somente na área "grafitada", deixando permanecer a sujeira inexpressiva e a poluição mortal que o trabalho de Orion sublinhava no resto do túnel. 



A ironia do trocadilho do próprio Orion em seu texto reflete a postura crítica perante a realidade que nos cerca: "A sociedade existe, a imagem a funda. A imagem existe, a sociedade afunda". 


O livro é o desdobramento do trabalho iniciado em 2004, que gerou uma exposição naquele ano. O nome Metabiótica vem de uma superposição de palavras: meta, transposição, após; bi + ótica, ótica dupla, duas visões. Algo além de duas visões, um jogo de linguagens: grafite, fotografia e um objetivo por trás disso. 

Trata-se de fotografias compostas pela justaposição dos grafites feitos por Orion em técnica de estêncil pelas ruas somadas a situações espontâneas surgidas da interação entre eles, flagradas no momento certo após longa e paciente espera do artista. As imagens criam um diálogo paradoxal entre o virtual e o real, o efêmero e o permanente, simplesmente sendo poéticas, bem-humoradas ou críticas.

Leia mais aqui (Wooster Collective).

Abaixo, um vídeo de 2010 sobre o trabalho OSSÁRIO: Orion reproduziu em uma galeria de arte uma exposição documental os desenhos e todo o clima dos túneis que, curiosamente depois da intervenção urbana, passaram a ser limpos periodicamente pela Prefeitura. 

Aqui, neste vídeo de 2006, Orion se apresenta como artista: seu backgound, suas metas para o futuro,  o processo de trabalho em Metabiótica. 
 

Confira outros posts sobre cultura pop aqui.
Quer mais sobre street art e graffiti? Em Graffiti: Make Art, Not War: Banksy e OsGemeos.
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Em 2006 uma revista bacana estava sendo lançada aqui no Brasil. Era a Street Magazine, com foco na cultura de rua, matérias sobre grafite, livros, comportamento, arte, moda... O jornalista Lula Rodrigues, como editor chefe, escalou um supertime: na revista # 1 vinham uma entrevista com Marcelo D2, fotos tiradas pelo celular de Cora Rónai, resenha de Tom Leão...por aí vai. Infelizmente como zilhares de projetos editoriais locais e nossa conhecida realidade econômica, a revista não prosseguiu.

Fui convocada como colaboradora e escrevi algumas matérias, algumas das quais esqueci na gaveta. De repente lembrei que, mesmo passado algum tempo, são coisas que valem a pena divulgar. Esta resenha é uma delas.

Aliás, para quem não sabe, Lula Rodrigues conta literalmente tudo sobre moda masculina no seu blog Moda Masculina Em Foco (O Globo).

28.8.11

MÚSICA: COMO FUNCIONA • EPISÓDIO #3 HARMONIA

Dando sequência às duas últimas postagens, seguimos com o  episódio #3 HARMONIA,  da série "HOW MUSIC WORKS ", produzida pelo CHANNEL 4 inglês. Apresentado por Howard Goodwall, o programa explica conceitos estruturais da Música ilustrando recursos usados em composição. São exemplos interessantes tanto para músicos e professores quanto para leigos, sem perder o foco didático. Divide-se em episódios com os temas MelodiaRitmoHarmonia e Baixo. Neste episódio, em 5 partes,  tópicos como tríades, progressão harmônica, dissonância, notas de passagem e outros são examinados ao longo da história. Os filmes ainda estão sem legenda em português. Mas se você também curte música, vai aproveitar vendo mesmo assim. Vale a pena!

EPISÓDIO # 3: HARMONIA "Acordes levam a progressões harmônicas e Howard observa como estes padrões familiares de progressões geram todos os tipos de música - do erudito ao popular - e seu senso de movimentação. Porque os mesmos padrões aparecem sempre, da renascença italiana até o mais recente hit?"
"Os músicos sempre apreciaram alterar os acordes básicos e fazer experiências com dissonância. Nós vemos como esses truques realmente funcionam e o efeito musical e emocional que produzem. Desde a música folclórica da Idade Média até Bach, Beethoven e Wagner, de Chuck Berry a David Bowie, Hendrix a Coldplay - a mesmas técnicas harmônicas surgem e ressurgem."





http://imaginetix.blogspot.com/2011/09/musica-como-funciona-episodio-4-ritmo.html

Clique abaixo para ver o próximo episódio de HOW MUSIC WORKS:
Ou para voltar a ver os anteriores: 

MÚSICA: COMO FUNCIONA • EPISÓDIO #4 BAIXO

Esta é a quarta e última postagem da compilação da série "HOW MUSIC WORKS ", produzida pelo CHANNEL 4 inglês, que utiliza diferentes épocas e locais do planeta para ilustrar todos os conceitos estruturais da Música. O músico Howard Goodwall apresenta a série dividida em 4 episódios: MelodiaRitmoHarmonia e Baixotrazendo informação aos leigos e mostrando curiosidades para os músicos.  Neste post apresentamos o último, mas não menos importante deles: episódio # 4 BAIXO, onde são abordados temas como movimento contrário, walking bass e baixo-pedal. Os filmes ainda estão sem legenda em português. Mas se você também aprecia música, vai aproveitar vendo assim mesmo. Vale a pena!

EPISÓDIO # 4: BAIXO

"Por meio milênio os especialistas vêm tentando construir instrumentos de todos os formatos e tamanhos capazes de emitir retumbantes e sonoras notas graves. Somente com a chegada dos sintetizadores conseguiu-se um rival para o poderoso órgão. Com a disco music, dance e drum 'n' bass, o baixo alcançou o centro da cena. Mas o baixo têm outro papel crucial: muito além de apenas dar peso no plano de fundo, as linhas de baixo têm papel marcante em toda a estrutura de uma composição, auxiliando a conduzir a progressão dos acordes."


"O filme "2001, uma Odisséia no Espaço", de Kubrick, marcou estilo e tornou famoso o clássico "Assim falou Zaratrusta" de Strauss, composta em 1896. Um dos recursos mais característicos e imitados nas trilhas de milhares de filmes de horror e ficção científica é o som de uma nota grave e longa: grandiosa, profunda e poderosa. É inevitável a sensação de infinitude, suspense ou ameaça que vem à mente ao som de apenas uma nota"
É verdade. Quem lembra de "Tubarão" (Jaws)? 
Bom, mas eu diria que uma exceção aguda usada no suspense são aqueles violinos estridentes em "Psicose"... :-)









Clique abaixo para voltar a ver os episódios anteriores de HOW MUSIC WORKS:
 EPISÓDIO # 1: MELODIA
 EPISÓDIO # 2: RITMO
 EPISÓDIO # 3: HARMONIA

25.8.11

MÚSICA: COMO FUNCIONA • EPISÓDIO #1 MELODIA

Diante das transformações trazidas pela tecnologia nas últimas décadas, desafiando os músicos profissionais a se reinventarem, é reconfortante reconhecer que, não importa o que aconteça, a Música sempre esteve no DNA humano. E pelo visto, irá continuar. Esta foi a minha feliz conclusão assistindo à "HOW MUSIC WORKS " (COMO A MÚSICA FUNCIONA), esta série muito legal produzida pelo CHANNEL 4 inglês com apresentação de Howard Goodwall Dividida em 4 episódios, aborda os temas MelodiaRitmoHarmonia e Baixoexplicando os aspectos estruturais da Música e como se refletem nas diferentes culturas. Os filmetes trazem exemplos curiosos para músicos e ensinam conceitos básicos aos leigos com uma boa didática. Podem ser encontrados dispersos no You Tube mas, para alegria geral já estão devidamente organizados aqui em 4 postagens. Ainda sem legenda para português. Mas se você também curte música, aproveite para aguçar a audição e veja mesmo assim. Vale a pena!


RESUMO DA SÉRIE
"Todos reagimos à música - seja estalando os dedos, cantarolando ou dançando - há sempre algo para todos nós.(…) Numa viagem que percorre o planeta e atravessa os séculos, Goodwall descortina os elementos que são compartilhados por todos os estilos de música. Seguindo a trilha de diversos talentos musicais, de Mahler a David Bowie, do blues às canções folclóricas da Bulgária; do coral medieval ao disco music, ele revela truques familiares ao ofí­cio do compositores, demonstrados e ilustrados."

EPISÓDIO # 1: MELODIA
"Melodia é a ferramenta mais poderosa da música para tocar nossas emoções, inspirando amor, tristeza e esperança. Nossas mães nos apresentam cantigas de ninar quando somos crianças e testes mostraram que até enquanto bebês reconhecemos canções que ouvimos durante a gestação."


"No capítulo #1 (em 5 partes) o compositor Howard Goodwall busca os elementos básicos da melodia. Porque alguns formatos melódicos são comuns entre todas as culturas do mundo? Melodias de sucesso poderiam ser compostas de forma randômica? Se não, o que são os padrões melódicos repetidos tantas vezes por compositores de todos os tipos, e por que eles funcionam?"


... E a velha e boa PENTATÔNICA:

Todo sistema musical do mundo compartilha estas 5 notas em comum. Realmente elas são tão importantes nas composições por todo planeta que parece que, como nosso instinto para linguagem, elas nos foram pré-instaladas quando nascemos. Essas cinco notas são nossa herança genética, como cinco dedos de nossas mãos."

How Music Works - Melodia parte 1- legendado em espanhol
How Music Works - Melodia parte 2- legendado em espanhol






Clique abaixo para ver os próximos episódios de HOW MUSIC WORKS: 

MÚSICA: COMO FUNCIONA • EPISÓDIO #2 RITMO

Continuando a série inglesa do CHANNEL 4 " HOW MUSIC WORKS ", iniciada no no post anterior, com apresentação de Howard Goodwall, dividida em 4 episódios abordando os temas MelodiaRitmoHarmonia e Baixo, aí está o episódio #2 sobre RITMO. Conceitos de síncope, poliritmia, swing...o balanço contagiante presente na evolução da música popular deliciosamente ilustrados com exemplos que passam por ragtime, jazz, salsa, rap, soul e muito mais. Os filmes ainda estão sem legenda em português. Mas se você também curte música, vai aproveitar vendo mesmo assim. Vale a pena!

EPISÓDIO # 2 : RITMO "No momento em que nosso coração começa a bater, estamos integralmente dentro do ritmo. Nos passos, na dança, estalando os dedos - estamos todos programados para reagir ao ritmo. Neste EPISÓDIO #2 (em 5 partes) Howard examina padrões rítmicos comuns usados por todas as culturas, de Brahms aos rappers, da música cubana à Philip Glass, de Stevie Wonder a Fats Waller"
"Porque alguns ritmos nos fazem dançar? Porque outros nos fazem sentir tranquilidade? Qual a ligação entre tambores da África e J.S. Bach? E como uma pequena ilha do Caribe produziu um ritmo que domina a música popular do mundo inteiro?"







Clique para seguir vendo os próximos episódios de HOW MUSIC WORKS:
 EPISÓDIO # 3: HARMONIA
 EPISÓDIO # 4: BAIXO
ou clique para ver o anterior: 
 EPISÓDIO # 1: MELODIA




18.4.11

Lendas urbanas: o teaser-graffiti - A verdade sobre LERFÁ MÚ x CELACANTO

Bem no final da década de 70 começaram a pipocar na zona sul do Rio de Janeiro os primeiros grafites-não-identificados: uma verdadeira batalha nonsense entre os dizeres LERFÁ MÚ e seu “rival” CELACANTO PROVOCA MAREMOTO. Provocando a curiosidade dos mais atentos, surgiam enigmaticamente nos locais mais improváveis, no verdadeiro espírito street, emergindo do rescaldo das pichações políticas contra a ditadura que predominavam até então.


Qual seria o verdadeiro significado daquelas palavras? Como teasers, geravam as especulações mais bizarras nas conversas de bar e mais tarde na imprensa, enquanto os dois autores do LERFÁ MÚ e sua trama estavam rolando de rir. Num clima meio Cheech&Chong, dividiam-se entre a PUC, o estúdio de fotografia e serigrafia no qual eram sócios, os intermináveis ensaios de rock e música blue grass, e os “ataques” clandestinos às paredes da cidade.

Entrando na faculdade de design aos 17 anos, pós-adolescente, fiquei alegremente chapada ao encontrar aquelas duas figuras inenarráveis, que iam ampliando em escala viral o círculo de domínio urbano - com o auxílio luxuoso de uma crescente gang de amigos adeptos e suas latas de spray e canetas pilot. Eram agentes provocadores da melhor estirpe, mais que tudo por uma razão inata: atitude. Dessas pessoas que, mesmo involuntariamente, meio por molecagem, invocam questionamentos, geram polêmicas, disparam a primeira pedra do efeito dominó. Neste caso, não meros pixadores, mas os primeiros e legítimos grafiteiros do Rio.

Os criadores do LERFÁ MÚ, Guilherme Jardim e Rogério Fornari, eram fotógrafos e músicos – entre outras coisas - e eram assim: divertidíssimos. Aqueles dizeres, mera corruptela do private joke que invertia sílabas na gíria de iniciados do bairro, dizendo em código lerfá-mú lhobagu para falar “vamo fumá um bagulho?”, vinham sendo ingenuamente repetidos por autoridades e pessoas públicas, disseminando o uso da cannabis sem nenhuma intenção - para a alegria dos grafiteiros e doidões locais.
Acima, Rogério Fornari (à esquerda) e Guilherme Jardim (à direita).
Ao centro, Paulinho (Paulo Futura), na época fotógrafo e outro sócio do estúdio.
A foto foi usada como indicativo na estrada para uma festa na serra de Petrópolis-RJ.

E insuflado pela crescente notoriedade anônima que aquele simples anagrama assumia, LERFÁ MÚ partiu para a disputa de espaço com o outro grafite, o CELACANTO PROVOCA MAREMOTO, este derivado de uma manchete citada num episódio de Nacional Kid, o seriado cult japonês, pai de Jaspion e avô dos Power-Rangers.

Em 1981, pegando ônibus num belíssimo dia de sol, encontrei Rogério, que se auto-intitulava “freak” (e direis: como não?) portando um soturno guarda-chuva preto. Diante do meu espanto, ele riu e explicou: “- é a senha”.

Fiquei na mesma, até que ele contou que nas internas, há quase um ano, CELACANTO vinha provocando LERFÁ-MÚ trocando desafios sob forma de grafite nas paredes dos banheiros masculinos da PUC, onde ele também estudava. Depois de muitos acordos, travados por escrito e sem se verem, marcaram um misterioso encontro num dos cruzamentos mais barulhentos e movimentados do Rio: esquina da Av. Nossa Senhora com Figueiredo de Magalhães, em plena Copacabana. Para se identificarem mutuamente, nada como improvável guarda-chuva.

Nunca soube o resultado político deste duelo, mas sei que Rogério, como bom freak que era, partiu anos depois para uma vida alternativa num sítio no interior de Minas. Em estilo compatível criou uma banda de rock e tratou de arrebatar a rádio local com suas composições gravadas num porta-estúdio, abiscoitando todos os festivais de música das proximidades. Sempre lerfando mú, é claro.

Já o Guilherme era a personificação da contracultura com um mix pós-moderno: enquanto sabia tudo de Jimi Hendrix, Johnny Winter e Rolling Stones – motivo de meu fascínio – já pilotava um TK 85, um computador pessoal pré-histórico, ouvindo Devo e Kraftwerk ou jogando space invaders. Os amigos que o conheceram – esta quem vos narra entre eles, já inoculada da technomania gamer por contágio - sabem que ali estava um transgressor nato, criativamente embebido na cultura pop. Em outras palavras, um sujeito da pá-virada.

Acima, Guilherme Jardim, Luciana Araujo [Lumyx] e Ricardo Camillo em foto de divulgação da banda.
(foto: Flávio Colker).

Depois de um tilt, o tal computador provocou até a composição de “Choveu No Meu Chip”, nosso sucesso meteórico com a banda ELETRODOMÉSTICOS*, já nos anos 80, onde o mesmo Guilherme era guitarrista e eu, tecladista num Korg Poly-800. Muito antes dos laptops, smartphones e outros gadgets, a canção de inspiração visionária – agora é fácil ver – narrava uma verdadeira tragédia informática da perda de todos os arquivos, profetizada em hilários playbacks new wave que fazíamos no programa do Chacrinha, Xuxa e afins enquanto o público ainda mal sabia o que afinal era um chip. Um grafite musical, a mesma atitude teaser – e o agente provocador entrava novamente em ação. Mas isso é outra lenda urbana.

*Almanaque dos Anos 80, pág. 139, em “Os Intocáveis”.

17.4.11

Graffiti - Make art, not war.

Na cultura pop o grafitti hoje é uma expressão onipresente. No mundo afora, ninguém melhor no tema do que Banksy, o campeão de visibilidade (ainda que mantendo-se anônimo!), com qualidade artística legítima e provocadora. Em pleno século XXI não temos mais espaço para a mera pixação, que suja o espaço urbano com garatujas cheias de fúria significando nada. Pelo menos, não no ocidente dito "democrático", onde palavras de ordem soam anacrônicas. Em contrapartida, belos trabalhos gráficos - como o trabalho da dupla OsGemeos - trazem coloridas mensagens às vezes somente visuais e sem palavras para nosso cinzento cotidiano urbano. Muitas vezes, com mais impacto político que 1000 palavras - ou seja, o espírito transgressor.

O VÍDEO ABAIXO NÃO APARECE PARA VOCÊ?
Se você está usando um i-Gadget (iPhone, iPad etc.) e quer ver o vídeo também, assista-o no 
YOU TUBE CLICANDO AQUI.

SEM PALAVRAS: Acima, uma parábola audio-visual, animação singela que criei usando como narrativa-trilha o som da pesada de McFerrin, Charles Wright & The Watts, Pedro Luís e a Parede e last but not least, Beatles. Todos escolhidos a dedo. [LUMYX]

De alguma forma, nessa primeira década do século, o grafite, antes manifestação popular underground, vem saindo das ruas - onde co-habita simbioticamente com a estética funky street hip-hop - está invadindo as galerias de arte, assumindo-se como uma estética mainstream.

Estética essa que aparece na publicidade, camisetas, tênis, grifes fashion e todos os meios que tenham os jovens como seu público-alvo. É a fagocitose capitalista, como sempre, digerindo e alimentando-se do consumo de seus outrora inimigos. Que o digam o rock, as drogas e os posters de Che Guevara. Funciona assim, ora. Quem não está satisfeito, que devolva o iPod, o iPhone e o iPad e pegue seu dinheiro de volta.

Abaixo, alguns clássicos grafites de Banksy (veja outros aqui), como sempre ainda trazendo força política corrosiva com senso de humor que interage com o entorno. Esse é o cara. 


"Ria agora, mas um dia estaremos no comando."

"Siga seus sonhos / CANCELADO."
"Eu me lembro quando tudo isso eram árvores."

Mais artísticos, no sentido estético-poético e não político da palavra, são Gustavo e Otávio Pandolfo, paulistas que são realmente irmãos gêmeos - que têm um belíssimo trabalho conjunto, com seus personagens de rosto amarelo.


Acima, o contraste entre o trabalho d'OSGEMEOS na galeria (na exposição "Vertigem") e nas ruas ( um muro de NY).

Apesar de serem cultuados em todo o mundo (U.K., França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Holanda, Cuba, Japão, China, Austrália e nos Estados Unidos), e já tendo exposto em galerias (como Tate Modern, na parede de um castelo na Escócia, e por aí vai), OSGEMEOS fazem uma distinção muito clara entre a atitude grafite nos muros das ruas e a arte entre paredes:
"- A partir do momento que nossa arte migra para os museus, não é grafite. A essência do grafite é sem permissão, sem ninguém te dizer o que você faz". - diz Gustavo.
E Otávio completa: "Grafite é sair na rua, não saber onde e por que fazer, mas fazer. E não receber por isso" (...)"Grafite é toda a atmosfera em volta, não é encomenda. Dentro de uma instituição ou uma galeria de arte, precisamos criar o ambiente. Recebemos uma sala toda branca e construímos um mundo. Na rua já está tudo pronto e colocamos o nosso trabalho".(fonte)
 
Entrando "na cabeça amarela" d'OSGEMEOS: