A obra de Andy Warhol é conhecidíssima: as múltiplas imagens ultra-gráficas de Marilyn Monroe, a banana do Velvet Underground ou a lata de sopa Campbell's, reproduzidas à exaustão, são recorrentes em nossa memória iconográfica pop. Boa parte de sua vida de jetsetter-pop-multimídia também já era conhecida, seja por seu livro auto-biográfico "The Philosophy of Andy Warhol (From A to B and Back Again)", publicado em 1975, seus próprios programas Andy Warhol’s Fifteen Minutes and Andy Warhol’s TV exibidos na MTV e TV a cabo, ou ainda seus vários auto-retratos. Suas inúmeras fotos feitas em Polaroid, clicando a si mesmo ou pessoas de seu convívio social poderiam render posts de Instagram, antecipando nas décadas de 70/80 as futuras chamadas redes sociais.
Agora Warhol reaparece em novos ângulos numa exposição de mais de 60 fotografias assinadas pelo fotógrafo de arte William John Kennedy e que ficaram guardadas por quase 50 anos.
A exposição foi inaugurada em Nova York dia 19 de abril (até 29 de maio de 2012). William John Kennedy nasceu em 1930 e atuou como freelancer em NYC com trabalhos para editoriais na LIFE Magazine e Sports Illustrated e campanhas para Avon, GE, IBM, American Express, Xerox e outros. Hoje vive em Miami.
As fotos (veja no site do curador, em preto e branco e em cores), ampliadas diretamente dos negativos sobre papel de fibra em tiragem de 60 cópias assinadas por Kennedy, transporta o espectador através de um dos momentos marcantes da história cultural e alguns dos personagens que moldaram o curso da arte americana na segunda metade do século XX.
As imagens insider dessa coleção foram clicadas quando William John Kennedy e sua esposa Marie iniciaram uma amizade com Andy Warhol e Robert Indiana, captando os dois artistas e suas obras mais emblemáticas do movimento Pop Art com ares de making of.
Também foi feito um documentário: "Full Circle: Before They Were Famous” (Círculo Completo: Antes Deles Ficarem Famosos), que faz uma crônica sobre o percurso das imagens, da época em que foram fotografadas até hoje.
Exibido em premiére na Art Basel Miami Beach 2010 e com depoimentos de Robert Indiana, Ultra Violet (uma das “superstars” de Warhol) e o poeta performático Taylor Mead contando particularidades, o filme é cheio de anedotas pessoais e lembranças que completam o quadro.
Andy Warhol é o artista-emblema da Pop Art e tem uma obra relevante, que flutua num universo entre a arte e o design. Com sua abordagem irônica, muitas vezes ácida e inteligente sobre ícones da sociedade de consumo, Warhol soube dela tirar proveito com a maior desenvoltura, quebrando “regras” do mercado da arte e transformando suas obras em “produtos” reproduzidos em escala serial de serigrafias e litografias ao alcance de muitos. Faz de si mesmo uma “marca”, transitando sem barreiras entre muitos meios de comunicação como um perfeito sef-promoter.
Dono de uma aguda percepção das possibilidades de manipulação da mídia, cunhou a famosa frase, que cai hoje como uma luva para um mundo que se curva aos reality shows: “No futuro todo mundo será famoso por quinze minutos” ("In the future everyone will be famous for fifteen minutes"). Certamente sua veia “publicitária” foi cultivada cedo, pós-faculdade e ainda como ilustrador das revistas Vogue, Harper's Bazaar e The New Yorker, as revistas mais cult da época, e como diretor de arte para peças publicitárias e displays para vitrines de lojas.
Entre os anos 60 e 70, numa NY agitada por muita experimentação de drogas, seu estúdio “Factory” (Fábrica) em Manhattan era o “point” da galera underground e descolada, entre drag-queens, modelos, atores de Hollywood, gente de teatro, rockers e boêmios em geral. Pessoas como Lou Reed, Bob Dylan, Mick Jagger, Truman Capote e Allen Ginsberg andavam por lá.
No meio dessa roda-viva social de moda, sexo, drogas e rock’n’roll, alguns “menos famosos” tornavam-se “queridinhos” de Warhol e eram alçados à condição de seus “superstars” – um termo dele. Num jogo de fama e culto à imagem, fotografava ou fazia filmes curta-metragem com essas pessoas, transformando-as em celebridades (fatalmente) “temporárias”. Alguns não suportaram o processo de ascensão e queda (poderia ser chamado de manipulação?) virtualmente temperado por "aditivos", como a deprimida modelo-musa Edie Sedgwick, que suicidou-se aos 28 anos em 1971. O filme Factory Girl (Uma Garota Irresistível), conta uma versão dessa história, sob protestos de Bob Dylan que o considerou difamatório.
Acima, o trailer de BEAUTIFUL DARLING, documentário com entrevistas com Fran Leibowitz e John Waters, sobre a vida de Candy Darling que sonhava ser uma nova Kim Novak e acabou tornando-se uma das “superstars” de Warhol. Distribuido por Corinth Films, lançado em DVD em 31/jan/2012.
Por outro lado, Warhol foi mentor e definitivamente impulsionou a carreira de outros artistas do cenário da nova-iorquino da pop art: Keith Haring e Jean-Michel Basquiat, ambos com abordagens vindas do graffiti. Sobre este último, vale assistir ao filme “Basquiat”, de 96, com elenco estelar e David Bowie no papel de Andy Warhol. Ou ainda o filme documentário “Downtown 81” (ou New York Beat Movie), de Edo Bertoglio, com Basquiat atuando e várias participações especiais, como de Kid Creole and the Coconuts. A trilha sonora tem vários colaboradores, entre eles, John Lurie e Grey, a banda do próprio Basquiat.
Uma conclusão que custei a ter mas me foi muito útil: é preciso saber separar o atista de sua obra. Devo admitir que, por pura idiossincrasia, sinto algum desconforto em relação à pessoa de Andy Warhol (1928 –1987). Convenhamos que isso é o tipo de dado totalmente irrelevante e quase bizarro, já que, distante por muitos quilômetros e algumas décadas, jamais o conheci pessoalmente. É preciso reconhecer que, de uma forma ou de outra, o artista Warhol foi um visionário à seu modo e soube como ninguém se perpetuar para muito além daqueles quinze minutos.
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